
Sabemos que a Coreia é um país fortemente machista e sexista, mesmo que fantasiosamente, dramas e ídolos tentam mascarar de todas as formas a realidade de uma tradição baseada na hegemonia de gênero, que determina costumes culturais. Por isso, como já muito abordado pelo Koreapost, principalmente nos últimos meses, a importância do feminismo para as sul-coreanas vem ganhando uma maior atenção.
Na capa deste artigo, temos a grande Kim Yoona, uma das principais atletas do país e um ícone, que define a Coreia do Sul contemporânea. Mas já pensou em como e por quê as mulheres se transformaram dentro da sociedade?
No século XIX a península sofreu as agressões de dominadores ocidentais, que ocidentalizando (leia-se “modernizando”) o Japão, país que, em prol de sua prosperidade, fez da península vizinha, sua colônia, ameaçou a construída, porém não conceitualizada, identidade nacional.
Dentro das estruturas – identidade nacional – o papel da mulher foi moldado principalmente com base no confucionismo, religião e filosofia adotada durante os séculos da Dinastia Joseon. E, de acordo com suas definições, homem e mulher devem ter tratamentos distintos. A mulher existe para exercer funções pré-definidas, de obediência, e de modelo na sociedade.
Dentre as funções, cabe a mulher, todas as responsabilidades domésticas e o dever de ser mãe zelosa e educadora da boa índole dos filhos. Também há distinção de que mulheres são frágeis e o homem é o ser forte da sociedade. A mulher é inferior ao homem, e por isso é dever dela, ser obediente aos homens da família: pai, marido e filhos homens se os tiver durante seu ciclo de vida. Enquanto em sociedade, o papel da mulher se restringe ao confinamento, submissão em prol do bem maior das autoridades masculinas. Entre outras coisas, a obediência sexual ao marido, naturalmente.
Assim denominado e desenvolvido, o conceito do – mulher – dentro na sociedade coreana esta claramente sentenciada como subordinada e inferior. Obediência era o único comportamento esperado de uma mulher.
Com a abertura externa do território, influencias ocidentais como religião e costumes foram introduzidos por missionários religiosos e intelectuais. Tanto o Japão, quanto a Coreia experimentaram a inclusão de novos pensamentos em seu cotidiano. E justamente por causa da incorporação ocidental é que a partir do século XIX, o intelectual coreano Choi Jae Woo, da Escola Oriental do Pensamento (Donhak sasang), começou a defender um nacionalismo que advogava pela igualdade das mulheres aos homens (no final e durante a decadência da dinastia Joseon).
O discurso de igualdade pregado entre mulheres e homens gera nas mulheres coreanas uma maior conversão ao catolicismo. Sem contar a descoberta de que mulheres americanas, e na época também as japonesas, começavam a se encaixar na sociedade com varias atividades profissionais fora de casa, e promoviam uma pequena, porém significativa evolução de caráter moral. Para alcançar as potenciais-modelos, se solta o grito da necessidade em modificar o papel da mulher na sociedade coreana: o bom exemplo da nova mulher naquela nova sociedade.
O contexto em que as tradições culturais influenciaram (e ainda influenciam) as relações de gênero, com incontáveis atitudes e práticas puramente sexistas sustentadas por uma cultura tradicional, agora se depara com os movimentos feministas, principalmente no período pós-guerras, que barram e transformam com dificuldades, as tradições. Isso que menciono, acontece de modo mundial, não é restrito somente a uma Europa ou no caso, à Coreia.
A hegemonia masculina perde espaço para que seja possível explorar as vozes das mulheres. O período pós-guerra da Coreia determinou que mulheres não devessem ser ignoradas, pois na nova e moderna sociedade sul coreana, as habilidades dessas mulheres eram essenciais para o desenvolvimento. Assim, a educação, principalmente, se torna o veiculo fundamental da imposição feminina na sociedade. A reformulação da nação sul coreana, defendia a abolição da discriminação de gênero, do patriarcado, da hierarquia e autoritarismo sexista e incluía direitos à educação, ao trabalho igualitário.
O legado deixado pelos movimentos nacionalistas durante a colonização japonesa também forneceu oportunidades para que as mulheres se envolvessem em atividades politicas. Durante as lutas contra a colonização japonesa e clamor sobre a própria identidade nacional coreana, as mulheres foram autorizadas a participar das lutas politicas por causa da escassez de pessoas. Mulheres que participaram desses movimentos saíram de sua reclusão e organizaram-se para um propósito político, o que provavelmente teria sido impossível em um período de paz.
Por fim, o campo de estudos sobre o papel da mulher na construção no nacionalismo coreano é vasto e pretendo continuar a abordar em breve, aqui na coluna. Mas que fique claro que foram os inúmeros eventos desastrosos do século XX que possibilitaram que as mulheres saíssem das sombras. E posso dizer que, apesar das tentativas de construir conceitos e tradições de igualdade de gênero, isso está muitíssimo longe de ser uma realidade na sociedade coreana atual. Elas acontecem de modo lento com intenções contestáveis.
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