Acabada a 2ª Guerra Mundial, a península coreana, que passou todos os anos do século XX sob domínio e exploração imperialista tanto do Japão, seu colonizador, como das outras potências imperialistas tirando o máximo de proveito de sua terra e de sua gente, ainda enfrentam, no período pós-guerra a condição mundial de “problema das Nações Unidas”.
Assim que Japão é derrotado pelos aliados, os Estados Unidos entram na colônia coreana a fim de garantir bases militares em combate às forças do exército vermelho já presentes no norte da península. A posição geográfica da península coreana sugeria uma tomada comunista e os anos finais da Segunda Guerra já sugerem o combate ideológico e político da Guerra Fria. Sendo assim, não podemos considerar a Coreia como um país livre e independente, mesmo com a retirada japonesa de sua colônia.
A situação da península se torna um “problema” para as Nações Unidas. Isso porque, em 1947 tanto União Soviética como Estados Unidos pressionavam a Coreia a ter compromisso com uma das nações (um dos lados ideológicos no caso, não havia nenhuma possibilidade de reconciliação entre ambos). Logo, os Estados Unidos decide levar a questão da conciliação coreana para as Nações Unidas. Isso foi inevitável para a divisão permanente da nação.
Compreender que a investida dos Estados Unidos definindo a problemática política da península para ser determinada pelas Nações Unidas implica que a Coreia, após anos de colonização, ainda não era considerada um país forte e capaz de determinar sua própria condição política. Claro que as Nações Unidas eram unidas principalmentes por nações imperialistas de concordância com as políticas estadounidenses anti comunistas.
Tanto fato, que a afirmação de um oficial militar de uma das bases militares na parte sul da península afirma que “A real explicação para os americanos se firmarem na Coreia é primordialmente a ocupação da Coreia do Sul para lutar contra a influência soviética. Isso nada tem a ver com estabelecer a democracia no país.”
Contudo, caso você leitor, tenha lidos os textos anteriores da seção ‘Tensões pré-guerra’ já leu sobre as dificuldades de organização política entre os diversos líderes e partidos políticos que se formavam desde a ocupação japonesa. Também já compreendeu que as divisões políticas eram frágeis e democracia era algo nunca inserido na sociedade coreana, que precisava de cuidados para se organizar. A narrativa dos Estados Unidos em “auxiliar no estabelecimento da democracia” ainda usada em diversas nações, justificando implementações grosseiras de domínio militar, foi usada também na Coreia.
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Korean People Journal – Japanese book “The First Anniversary of Korean Liberation” published by Shinkan Sha]
Em maio de 1947 a comissão que definiria a situação coreana iniciou as primeiras comitivas. Em julho, a justificativas para novos encontros consistiam em afirmar que não haveriam acordos mas ainda aconteceriam encontros de discussão. Depois disso, os Estados Unidos enviaram o problema diretamente para Washington como um problema dos Estados Unidos a ser resolvido por si, e isso forçaria as Nações Unidas a exigir a retirada do país americano da península.
Para as Nações Unidas, não era espanto entender o problema coreano como teste de superação entre Rússia-EUA e que politicamente, por mais que houvesse lideranças nacionais, eram as forças estrangeiras que definiriam o futuro da península. A estratégia de ambas potências era não perder o controle para não fragilizar, diante do mundo, o conceito defendido. Portanto se EUA falhasse na politica coreana, automaticamente daria vantagem a URSS. Por isso, as Nações Unidas apoiaram as eleições democráticas na Coreia do Sul a fim de conduzir a ordem internacional política.
Estados Unidos em comunicação com União Soviética considera a recepção da Comissão das NU para acompanhar e legitimar os acontecimentos políticos eleitorais da Coreia. Caso a Soviética declinasse, EUA reforçaria o caso para as Nações Unidas e se houvesse falha de seu interesse particular (partidos estimulados pelos EUA perdessem), também garantiria a independência da Coreia do Sul. Um documento foi emitido com algumas considerações para a US, tornado contraditorio alguns acordos com o que os sovieticos vinham defendendo desde o inicio do conflito.
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Porém a União Soviética argumentou que as eleições não estavam caminhando de acordo com o tratado entre as duas potências, dando claramente benefícios para que os acordos entre Nações Unidas, EUA e Coreia do Sul fossem facilitados e por isso a NU interpretou que a US estaria rejeitando o compromisso da comissão pelo problema coreano.
Com as eleições de 1948 e a constituição do Governo Nacional da Coreia foi estabelecido que EUA e US deveriam retirar as forças e bases militares o mais rápido possível. A vitória partidária seria paralelamente uma vitória dos Estados Unidos e as políticas estadunidenses em acordo com as Nações unidas eram inoportunas para a Coreia. A unificação total da Coreia já não era mais viável pelas alegações entre União Soviética e Estados Unidos sobre a impossibilidade de retirada de um enquanto o outro permanece. Com a vitória do partido de Syngman Rhee com o apoio dos EUA, a União Soviética considerou a necessidade de continuar fazendo da península, palco de combate político contra os Estados Unidos, já que não estava sendo criado de fato um país soberano unicamente pelos coreanos.
Textos utilizados: Kim Jung Wung – America’s Korea Policy and the United nations, 1947-48 e Yang Song Chol – The United Nations on the Korean Question since 1947
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