Um funeral oferece a chance para o fortalecimento do vínculo emocional entre os familiares enlutados, enquanto estes reúnem-se para sofrerem juntos pela perda de um ente querido. Mas pode também ser o momento em que, as emoções cruas e as tensões, que foram jogadas para baixo do tapete por muito tempo, venham à tona abruptamente, ferindo visceralmente os presentes.
Em “The House of Mourning“, a obra destacada acima, o artista Cho Moon-ki, com inteligência – e um tanto hilariamente – captura o emaranhado de emoções cruas e discussões físicas entre os familiares presos em tal situação.
O principal parente pressiona com força a boca de outro homem que tenta bater na cara dele, enquanto outros tentam parar a briga. Um homem sem camisa, possivelmente um bêbado, está também envolvido em outra briga com outro homem – este último está sentado sob seus joelhos e tenta bloquear com ambos os braços uma reação violenta que possa vir a qualquer momento do parente bravo e irracional. Perto deles, uma mulher está deitada, provavelmente desmaiada em decorrência do cansaço, ou também por ter bebido demais. Uma garota, totalmente inconsciente da confusão que está ocorrendo, olha atentamente para o seu celular.
Ao mostrar a cena mais feia e mais baixa que uma família pode protagonizar, demonstrando não sentir nada além de amargura, raiva, desprezo e frustração uns com os outros, o artista fala sobre tensões e conflitos internos das relações humanas e uma possibilidade de que o amor incondicional dos pais, ou parentes seja apenas um mito.

“Eu me interesso pelos conflitos internos dos relacionamentos. Como uma família é uma unidade básica que compreende uma sociedade humana, eu tenho, inevitavelmente, acesso a muitos problemas que surgiram do friso emocional supostamente inquebrável que a família, como uma instituição, impõe aos indivíduos”, o artista contou à agência de notícias Yonhap na galeria Barakat Seoul, onde suas pinturas foram exibidas como parte da exposição “The Absence of Paterfamilias“.

Apontando a natureza profundamente patriarcal da sociedade coreana, ele acrescentou que o país ainda coloca muita ênfase nos supostos méritos de se “ser obediente” e “pertencer a um grupo”, enquanto silencia as vozes da felicidade individual.

Desde os anos escolares, Cho Moon-ki tem sido bastante rebelde, disse o artista. Ele era obcecado por animações japonesas. E a proibição do governo sobre as importações de produtos culturais japoneses que durou até 1998 apenas fez sua obsessão crescer mais em forma de protesto.

Muitas vezes, intencionalmente, ele desenhava pinturas provocativas que faziam com que os outros franzissem a testa, em estado de choque ou desgosto, o que, por sua vez, lhe dava emoção e entusiasmo.
“Eu gostava de ser diferente dos outros e gostava de ver como as pessoas reagiam às minhas pinturas. Eu ainda faço e espero que meu trabalho dê combustível para o pensar e o falar“, disse o artista de 39 anos, acrescentando: “O trabalho que todos gostam está destinado a não ser bom. Eu gostaria que meu trabalho inspirasse ou mesmo provocasse outros“.

Cho acha que uma pintura só é completada quando um espectador acrescenta a sua própria interpretação e histórias a ela. Isso explica seu raciocínio em querer reter descrições emocionais, como a ausência de expressões faciais e sátira metafórica.
“Eu quero que minhas pinturas tenham significados diferentes, dependendo de quem as vê. Uma pintura será completamente completa quando tiver uma história a contar. Eu me sinto motivado quando isso acontece“, disse ele.
Enquanto Cho ainda está procurando saber como uma família ideal se parece, ele quer que os outros se juntem à conversa sobre o assunto ou, pelo menos, tenham um tempo para pensar sobre esta questão, eles mesmos.

“Para ser honesto, não tenho uma resposta. Mas a base desta discussão é que cada indivíduo é importante e a felicidade é o que importa. Isto é tudo o que sei“, disse ele. “Eu sonho com uma sociedade onde um indivíduo não seja forçado a se sacrificar por sua família, ou uma instituição maior, na verdade“.
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