Dezenas de milhares de pessoas marcharam através do centro de Seul nesse sábado (15) para defenderem a igualdade para as minorias sexuais, no que se tornou a maior parada do orgulho LGBTQ+ da Coreia do Sul, apesar da oposição vocal de manifestantes contra a comunidade.
Apesar da chuva esporádica, 85 mil pessoas entre elas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e apoiadores, reuniram-se no Seul Plaza, segundo os organizadores. Esse número bateu o recorde de pessoas em eventos a favor da comunidade LGBT, que era da parada do ano passado com 50 mil pessoas.

“Eu estou feliz por finalmente poder expressar quem eu sou. Estou surpreso por tantas pessoas terem vindo aqui hoje, porque normalmente eu não vejo pessoas que são abertamente gays perto de mim”, disse uma estudante universitária de 22 que preferiu se identificar apenas através do seu sobrenome: Park.
“Eu ainda não contei para os meus familiares e para os meus amigos acerca da minha sexualidade”, ela completa. “Eu não teria amigos se ‘saísse do armário’. Eu me sentiria excluída. As pessoas ao meu redor me veriam de maneira diferente”.
Apesar da homossexualidade não ser crime na Coreia do Sul, a maior parte da comunidade LGBT vive à margem da sociedade, tendo em vista que a maioria dos coreanos são intolerantes aos homossexuais.

Isso ficou claro nas eleições presidenciais desse ano, quanto dos 6 principais candidatos apenas um se mostrou a favor dos direitos LGBT, enquanto os outros pouco falavam disso ou quando falavam, se mostravam contra.
O desfile desse ano veio em meio a crescentes pedidos pela abolição da proibição de militares gays, após o tribunal militar condenar, em maio desse ano, um soldado gay a seis meses de prisão e um ano de suspensão, por ter feito sexo consensual com outro soldado do mesmo sexo.

“Eu sinto que a sociedade coreana está, aos poucos, mudando e abraçando as diferenças. Falo isso devido a quantidade de pessoas que estão aqui hoje, mesmo com a chuva forte”, disse Kang Myeong-jin, que lidera o comitê organizador do Festival de Cultura Queer da Coreia desde 2010.
“Não posso dizer que não estou com raiva dos manifestantes contrários aqui presente, mas não é culpa deles. Eles simplesmente não conseguem aceitar mudanças drásticas”, disse ele, citando a necessidade do governo coreano em desempenhar um papel mais forte na conscientização da sociedade, assim como na aplicação de políticas que proíbam a discriminação contra as pessoas LGBT.

Os participantes andaram 4 quilômetros enquanto seguiam nove caminhões decorados, dançavam músicas, mostravam as bandeiras com arco-íris (símbolo da comunidade LGBT) e celebravam o orgulho mesmo com protestos contrários ocorrendo em todo percurso.
“Quando minha filha me contou que é gay, eu não queria aceitar e entrava em conflito com ela. Mas eu aprendi que ela é quem mais sofre devido as pessoas que não aceitam a comunidade LGBT”, disse um homem de 53 anos que é pai de uma moça de 26 anos. “Eu espero que minha filha seja capaz de viver em uma sociedade que não discrimine as pessoas por causa da sua orientação sexual, ou da sua identidade”, ele completou.

Por outro lado, milhares de protestantes contra a causa LGBT, principalmente grupos de direita e religiosos, organizaram-se contra a parada perto do Seul Plaza. “A homossexualidade está derrubando valores sociais e éticos, atingindo a sociedade com doenças. Nós, em nome do público, nos opomos a aqueles que tentam espalhar a homossexualidade disfarçada de atividades de direitos humanos”, disse o pastor Choi Ki-hak, em um discurso feito em frente ao palácio de Deoksugung.

Mas nem todos estavam contra o movimento gay: “Eu vim aqui para mostrar que a oposição à homossexualidade não é o ensinamento da bíblia”, disse Chung Sang-hyuk, um protestante de 26 anos que vestiu-se como Jesus. “O que Jesus nos ensinou é a amar a todos. A homossexualidade não é pecado. É amor. Não está sujeito a aprovação ou oposição”.

Cerca de seis mil policiais foram colocados em torno da praça e ao longo da rota do desfile, para separar os defensores da comunidade LGBT daqueles que protestavam contra eles. Mas não foram relatados grandes confrontos.
A Comissão Nacional de Direitos Humanos da Coreia se juntou, pela primeira vez, ao evento. “Como o discurso de ódio e a discriminação contra as minorias sexuais continuam na sociedade, queríamos aproveitar esta oportunidade para melhorar a conscientização pública”, disse Ahn Hyo-chul, funcionário da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Coreia. “É hora da sociedade coreana respeitar a diversidade”.
O Festival de Cultura Queer da Coreia iniciou-se na sexta e durou até o domingo passado. Um festival de cinema LGBT funcionou de quinta a domingo no Lotte Cinema em Sinsa-dong, no sul de Seul.
Aqui se pode ver algumas imagens do evento, obtidas pelo jornal Korea Herald:
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